sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Carta Aberta para a Associação Sul-coreana de Badminton

Raphael Sachetat, editor-chefe do Badzine, escreveu uma carta aberta para a Associação Sul-coreana de Badminton, pedindo que reconsiderasse a decisão de banir por dois anos de competições internacionais as quatro atletas que foram excluídas dos Jogos de Londres 2012 por fazerem "corpo mole".

Além da punição para as atletas, o técnico da seleção coreana e o técnico de duplas femininas da seleção foram demitidos. Todos os envolvidos terão até o dia 21/08 para apelar e a decisão final será tomada pelo Comitê Executivo da Associação no dia seguinte.

Tanto a decisão coreana quanto a carta do Raphael são polêmicos. Um lado defende uma punição exemplar, outro defende que as atletas já foram devidamente punidas por saírem da maior competição mundial, auge da carreira da maioria dos atletas (onde tinham, inclusive, chances claras de medalha) e ainda por passarem por esta situação vexatória diante de todo o mundo.

Em casos de doping, eu defendo a punição exemplar. Neste caso, tendo a concordar com o Raphael, principalmente depois de seu argumento sobre a difícil situação das atletas, que se mostraram claramente constrangidas jogando daquela forma displicente. Elas ficavam entre a ordem do técnico e a ameaça do árbitro.

Já os técnicos foram devidamente punidos. Fora da seleção e com toda essa situação, acredito que as portas acabam se fechando.

Confiram abaixo a transcrição completa da carta publicada no Badzine.


Carta Aberta para a Associação Sul-coreana de Badminton
POR RAPHAEL SACHETAT - 15 DE AGOSTO DE 2012 - PUBLICADO EM: DESTAQUES

Carta Aberta para a Associação Sul-coreana de Badminton

Em 31 de julho de 2012, quatro de suas atletas foram desclassificadas dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 pela Federação Mundial de Badminton por "não usar seus melhores esforços para vencer uma partida" e "se conduzir de forma claramente abusiva ou em detrimento ao esporte".

Eu estava lá, a apenas alguns metros de distância, no coração da ação, quando a partida entre Kim Ming Jung e Ha Jung Eun e a dupla indonésia Greysia Polii e Meiliana Jauhari foi interrompida diversas vezes quando se tornou claro que ambos os lados não estavam jogando para vencer. Eu estava lá para ver o quão desesperadas estavam Kim e Ha para achar uma maneira de sair desta situação. Elas tinham que escolher entre desobedecer um árbitro ou desobedecer seu próprio técnico, entre o verdadeiro espírito do esporte e usar o sistema para a vantagem de alguém. Era uma situação muito difícil em que elas se encontravam e sem uma solução. Elas lidaram com isso da melhor forma possível, mas sempre haveria consequências.

Kim Ming Jung, Ha Jung Eun, mas também Kim Ha Na e Jung Kyung Eun são atletas de classe mundial. A cada dia, elas acordam para fazer o seu melhor. Elas estavam treinando duro para se qualificaram para estes Jogos Olímpicos - o ápice da carreira de qualquer atleta. Em poucos minutos, por causa de um sistema de qualificação deficiente de todos contra todos, seus sonhos foram destruídos, uma primeira vez.

Elas foram desqualificadas da mais importante competição de suas vidas. Quatro anos de treinamento duro, de dedicação, de sacrifício, desapareceram durante a noite quando sua desqualificação foi anunciada no dia seguinte. Isso significava que a Coreia do Sul havia perdido todas as chances de conquistar uma medalha, pois ambas as duplas tinham claramente o potencial para chegar ao pódio e fazer sua nação orgulhosa.

Esta desqualificação foi provavelmente a pior coisa que poderia ter acontecido para elas e eu posso apenas imaginar o quão doloroso este momento deve ter sido, não apenas para a Coreia do Sul como um todo, mas para estas atletas em particular.

Ontem, nós ouvimos as notícias de que elas estavam encarando um banimento de dois anos pela sua própria Associação.

Elas não podem ser culpadas uma segunda vez. Elas não podem ser punidas uma segunda vez - isto iria contra a ética do esporte e seria injusto. Banir estas atletas de competições internacionais seria outra tapa terrível no rosto dessas atletas e poderia arruinar suas carreiras. Talvez ainda mais importante, iria prejudicar o esporte e os sonhos de centenas de jovens, na Coreia do Sul e além, que escolhem o badminton com a esperança de participar dos Jogos Olímpicos um dia e fazer seu país orgulhoso como essas duplas se esforçaram para fazer.

Eu rogo à Associação que não puna ainda mais Kim Ming Jung, Ha Jung Eun, Jung Kyung Eun e Kim Ha Na e sinceramente espero que elas tenham permissão de voltar aos torneios internacionais o mais rápido possível. Para compensar seu desapontamento. Para mostrar que, apesar de sua desqualificação, sua nação ainda está orgulhosa delas. Elas merecem este orgulho e uma segunda chance. Elas merecem poder seguir em frente e brilhar novamente.

Atenciosamente,

Raphael Sachetat
Editor Chefe, Badzine

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